domingo, 10 de agosto de 2014

Que o Gre-Nal nos una mais um vez

Quando nascemos somos destinados a escolher o time pelo qual torceremos pelo resto de nossas vidas. Essa escolha determina nossa cor preferida, nossa forma de torcer, nosso estilo de apreciar futebol. Sofremos influências de todos os lados, mas na maioria das vezes somos fadados a torcer para o time de nossos pais. No meu caso, aprendi primeiro o que era futebol antes de fazer a escolha de um time. Fui privilegiada com um pai que, na minha mais tenra infância, me mostrou o campo e a bola, e logo, a camisa tricolor e as taças. Já nasci campeã de tudo, muito antes de um outro clube aí banalizar essa expressão.

E foi o amor em comum pelo futebol que me fez ser tão ligada ao meu pai na infância. Eu realmente fui a todos os campeonatos e estive presente em todas as fotos do time campeão de meu pai. Ele era um orgulho pra mim, um centroavante nato, de força física e talento. Uma pena o olheiro do Damião não tê-lo visto jogar, tenho certeza que ele sim teria ido para o Tottenham. Tudo bem, o destino tinha outros planos para ele e um deles era me ensinar além da essência do futebol, o time para qual eu torceria, os meus princípios, meus valores e, com o tempo, me tornar essa pessoa de caráter moldado ao dele. Lembro de estar com ele junto às bandeiras, com uma camisa tricolor maior que eu, para comemorar a Libertadores de 95 lá na rua, enlouquecidamente. Eu tinha apenas 4 anos. Ali, aprendi uma das maiores emoções. Eu também lembro do fatídico Gre-Nal dos 5x2 em que perdemos. Eu tinha 6. E como sempre acontecia nas derrotas, minhas lágrimas escorriam em silêncio. Ele me olhou e rindo disse: “calma, nem sempre podemos vencer, logo tem outro jogo e as coisas podem mudar”. E ali, aprendi uma das piores emoções.

Porém, com o tempo as coisas mudaram. Meu fanatismo alcançou níveis que nem ele imaginaria e o dele diminuiu. Talvez, porque sou uma sonhadora que vive no fantástico mundo do positivismo do futebol e ele, realista, obviamente não. Com o tempo nos afastamos, embora não fisicamente, já não somos mais aquela dupla implacável. Já não temos a mesma leitura do jogo, nem as mesmas opiniões táticas. Não temos mais a mesma opinião de vida, nem os mesmos objetivos. Almejamos coisas diferentes para mim, principalmente. E para piorar, eu insisto em desapontá-lo em tudo que ele espera de mim. “Não vou ser advogada pai, vou ser policial. Ou técnica do Grêmio. E se tudo der errado, vou morar na praia e viver da pesca”. Talvez por eu repetir as palavras que ele não gosta de ouvir é que hoje conversamos muito pouco. O jeito dele retranqueiro 3-5-2 de três volantes bate de frente com meu jeito 4-3-3 de ver a vida. E aos poucos, noto que pouco temos em comum a não ser o time para o qual torcemos.


E a vida nos afastou de alma embora as duas sejam tricolores. Estamos tão perto e ao mesmo tempo tão longe. A parceria do futebol se desfez. As minhas medalhas de artilheira não estão mais juntas as dele. E hoje, mesmo que eu quisesse repensar, já fiz minhas escolhas. E ele, bem... ele parece meio sem tempo para conciliar. Mas hoje escrevo-lhe estas mal traçadas linhas porque é um dia especial: é dia de Gre-Nal. Porque se há algo capaz de unir nossas energias é a vontade de vencer um Gre-Nal. E que se me falta coragem de dizer o que penso a ele, hoje a emoção será mais forte quando nos abraçarmos na hora do gol. 


Feliz dia dos pais, pai. De quem apesar dos pontos de vista diferentes, vê em ti um exemplo de vida.

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