Quando nascemos somos destinados a escolher o time pelo qual
torceremos pelo resto de nossas vidas. Essa escolha determina nossa cor
preferida, nossa forma de torcer, nosso estilo de apreciar futebol. Sofremos
influências de todos os lados, mas na maioria das vezes somos fadados a torcer
para o time de nossos pais. No meu caso, aprendi primeiro o que era futebol
antes de fazer a escolha de um time. Fui privilegiada com um pai que, na minha
mais tenra infância, me mostrou o campo e a bola, e logo, a camisa tricolor e
as taças. Já nasci campeã de tudo, muito antes de um outro clube aí banalizar
essa expressão.
E foi o amor em comum pelo futebol que me fez ser tão ligada
ao meu pai na infância. Eu realmente fui a todos os campeonatos e estive
presente em todas as fotos do time campeão de meu pai. Ele era um orgulho pra
mim, um centroavante nato, de força física e talento. Uma pena o olheiro do
Damião não tê-lo visto jogar, tenho certeza que ele sim teria ido para o
Tottenham. Tudo bem, o destino tinha outros planos para ele e um deles era me ensinar
além da essência do futebol, o time para qual eu torceria, os meus princípios,
meus valores e, com o tempo, me tornar essa pessoa de caráter moldado ao dele. Lembro
de estar com ele junto às bandeiras, com uma camisa tricolor maior que eu, para
comemorar a Libertadores de 95 lá na rua, enlouquecidamente. Eu tinha apenas 4
anos. Ali, aprendi uma das maiores emoções. Eu também lembro do fatídico
Gre-Nal dos 5x2 em que perdemos. Eu tinha 6. E como sempre acontecia nas
derrotas, minhas lágrimas escorriam em silêncio. Ele me olhou e rindo disse: “calma,
nem sempre podemos vencer, logo tem outro jogo e as coisas podem mudar”. E ali,
aprendi uma das piores emoções.
Porém, com o tempo as coisas mudaram. Meu fanatismo alcançou
níveis que nem ele imaginaria e o dele diminuiu. Talvez, porque sou uma
sonhadora que vive no fantástico mundo do positivismo do futebol e ele, realista,
obviamente não. Com o tempo nos afastamos, embora não fisicamente, já não
somos mais aquela dupla implacável. Já não temos a mesma leitura do jogo, nem as
mesmas opiniões táticas. Não temos mais a mesma opinião de vida, nem os mesmos
objetivos. Almejamos coisas diferentes para mim, principalmente. E para piorar,
eu insisto em desapontá-lo em tudo que ele espera de mim. “Não vou ser advogada
pai, vou ser policial. Ou técnica do Grêmio. E se tudo der errado, vou morar na
praia e viver da pesca”. Talvez por eu repetir as palavras que ele não gosta de
ouvir é que hoje conversamos muito pouco. O jeito dele retranqueiro 3-5-2 de
três volantes bate de frente com meu jeito 4-3-3 de ver a vida. E aos poucos,
noto que pouco temos em comum a não ser o time para o qual torcemos.
E a vida nos afastou de alma embora as duas sejam
tricolores. Estamos tão perto e ao mesmo tempo tão longe. A parceria do futebol
se desfez. As minhas medalhas de artilheira não estão mais juntas as dele. E
hoje, mesmo que eu quisesse repensar, já fiz minhas escolhas. E ele, bem... ele
parece meio sem tempo para conciliar. Mas hoje escrevo-lhe estas mal traçadas
linhas porque é um dia especial: é dia de Gre-Nal. Porque se há algo capaz de
unir nossas energias é a vontade de vencer um Gre-Nal. E que se me falta
coragem de dizer o que penso a ele, hoje a emoção será mais forte quando nos
abraçarmos na hora do gol.
Feliz dia dos pais, pai. De quem apesar dos pontos de
vista diferentes, vê em ti um exemplo de vida.
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