Com o empate contra o Flu, Grêmio chega à
marca de 722 minutos sem levar gol e está há 8 jogos sem perder. Esses
números são reflexos da consolidação de um sistema defensivo encaixado e
harmônico, principalmente na zaga. Embora os números do nosso ataque
não sejam destaque, no jogo de ontem – e vale dizer, ao contrário dos
últimos – foram criadas muitas chances de gols que pararam na trave ou
no juizão. É evidente, então, que o Grêmio preza e dá uma atenção quase
que totalmente focada ao sistema defensivo e graças a isso estamos no
G4. Mas seria tudo isso fruto de um pensamento mágico? Vivemos uma
ilusão?
Pelo contrário, Felipão monta um time
muito ciente de sua realidade que busca primeiramente sua estabilidade
defensiva para depois atacar. Não é um futebol envolvente, mas é um
futebol realístico. Formou uma zaga coesa e isso também reflete no ótimo
desempenho da muralha Grohe, pois o bom desempenho de um goleiro está
atrelado à sua confiança na defesa. Nosso técnico sabe os limites do
time e criou um esquema voltado para tanto. Grêmio, dependente dos três
volantes, tem na recomposição tática o fator determinante para que se
mantenham aqueles números da defesa. Dudu, que joga agudo pelas pontas,
executa essa função com enorme determinação: é o jogador que mais se
dedica nesse dever e incansavelmente defende a lateral do lado em que
atua, ajudando a anular os ataques por ali.
Bem, há quem diga que atacante é feito
para marcar gols. Eu concordo, desde que não haja deficiência de peças
no setor defensivo. Melhor dizendo, vejo o esquema de pontas, hoje, como
uma adaptação necessária do futebol, principalmente do brasileiro, para
suprir uma carência de bons laterais. Zé Roberto sai muito melhor que a
encomenda, mas Grêmio precisou improvisar esse jogador porque é uma
posição a qual apresenta escassez de jogadores no mercado. Fazendo-se,
assim, necessária a priorização da recomposição tática por esses
meias-atacantes e esse modo de jogo, obviamente, pode afetar nosso
ataque. E isso acontece principalmente pelo fato de não contarmos com um
meia de criação capaz de dar qualidade ao passe, tendo que designar um
volante para essa função, que no caso de ontem, pela maior parte do
tempo, foi Ramiro.
Dessa forma, vejo Dudu como um jogador
importantíssimo nesse esquema, lembrando que ele inverte lados do campo.
Na inversão de lado, quem voltou para recompor foi Luan (e depois foi
Fernandinho), mesmo que ele tenha atuado mais pelo meio-campo. Mesmo
assim, no jogo de ontem, não faltaram chances de gol. Inclusive, nota-se
uma dificuldade maior na criação de jogadas quando o Grêmio joga em
casa, talvez seja pela pressão do resultado positivo, ou porque fora de
casa é mais lógico que o outro time ceda espaços. O que nós, torcedores,
precisamos ter ciência é que o Grêmio joga da forma que pode e que no
momento o foco é mesmo a defesa. Não tem nem porquê achar outra coisa, é
graças a isso que estamos no G4.
Grêmio encontrou um jeito de sobreviver e
ele tem sido ideal para almejar a disputada vaga para Libertadores.
Ainda há muitas coisas que precisam melhorar, como a finalização, por
exemplo. Mas hoje, o Grêmio joga dentro da realidade e isso não tem nada
de mágico, mas pura competência de Felipão. Ele definitivamente entende
de Grêmio. Retifico, portanto: é um verdadeiro sentimento mágico.
Vamos, Tricolor!