domingo, 10 de agosto de 2014

Em cada experiência se aprende uma lição: o Processo de Scolarização começou.

Estou arrasada. Como é horrível perder Gre-Nal. Perder vários, então, é insuportável. A revolta da torcida é compreensível pois ela sente como se a história do Grêmio fosse manchada a cada derrota para o time de vermelho. É um somatório dos anos sem títulos com as derrocadas nas fases finais das competições.

Entretanto, o jogo de ontem nos mostrou uma perspectiva diferente. Ultimamente, vínhamos perdendo o Gre-Nais taticamente, por mérito de Abel, por ingenuidade de Enderson, principalmente aquele dos 4x1. Com Felipão, Grêmio deteve o domínio do meio-campo. Escalando três volantes que a torcida não esperava, ele surpreendeu também Abel. Walace jogou muito bem, comprovou o que vinha sendo falado dele. Assumiu a responsabilidade e, junto ao Fellipe Bastos e Rodriguinho, anulou a criação de D’alessandro e Aranguiz.

Grêmio jogou num 4-2-3-1. Postou os três volantes de forma perfeita e colocou Giuliano para triangular com Dudu e Barcos. Este, vale lembrar, desde o último jogo do Grêmio sob comando de Enderson, não joga mais de pivô, consequentemente tem rendido e aparecido muito mais para o jogo. Ramiro foi bem na lateral, já tinha jogado assim no Juventude e Pará fez sua parte defensiva.

O único erro, ao meu ver, foi na escalação. Werley já havia sido sacado do time pelas frequentes falhas em gols sofridos no primeiro semestre, quase todos pelo mesmo motivo, sua desatenção - pra não dizer insistência - em marcar a bola. Isso aconteceu de novo. Ele tomou bola nas costas num cabeceio no primeiro poste, o que me levou a fazer tal pergunta: “ele estava marcando quem: Fabrício que ia cruzar, a linha do campo ou a bola?” Erro amador. Nossa defesa vinha bem, Geromel rendia mais a cada jogo, não havia dúvidas, já tem tempo que Werley não cabe mais no time titular.

Outro fator a se considerar além da disposição tática e a inteligência na cobertura dos espaços pelos volantes, foi a entrega do time em campo. Percebi um time muito aguerrido, lutador, não desistindo da jogada. E essa compilação de inteligência tática ao observar a forma de jogo do adversário e o futebol aguerrido com cara de Grêmio é o que eu vou chamar de “Processo de Scolarização”. Esse processo tem apenas uma semana de trabalho e já foi possível perceber a melhora no posicionamento das peças de meio e um time com vontade de vencer. É promissor e me passa confiança.

E foi por causa desse processo que fomos superiores na maior parte do jogo. Terminamos o primeiro tempo com 51% de posse de bola, jogando retrancado, na casa do adversário. Na verdade, isso só parou de acontecer depois de levarmos o primeiro gol. Então, foi necessário mexer na escalação e na postura em campo. A mudança de esquema aconteceu com a entrada de Fernandinho, jogando pela ponta esquerda. O segundo gol foi uma consequência da necessidade do empate, designando aos defensores que fossem à área tentar o gol. Perdemos por uma falha individual num jogo em que o Grêmio jogou muito melhor.


A derrota, por óbvio, nos entristece, mas é necessário saber analisar o jogo deixando de lado nossas mágoas. Estamos diante de um Processo de Scolarização que se inicia e começa a tomar forma. E como não acreditamos em “pensamento mágico”, sabemos que é preciso trabalho contínuo de Felipão até que se consiga solidificar um time, uma estratégia e uma filosofia de jogo.

Que o Gre-Nal nos una mais um vez

Quando nascemos somos destinados a escolher o time pelo qual torceremos pelo resto de nossas vidas. Essa escolha determina nossa cor preferida, nossa forma de torcer, nosso estilo de apreciar futebol. Sofremos influências de todos os lados, mas na maioria das vezes somos fadados a torcer para o time de nossos pais. No meu caso, aprendi primeiro o que era futebol antes de fazer a escolha de um time. Fui privilegiada com um pai que, na minha mais tenra infância, me mostrou o campo e a bola, e logo, a camisa tricolor e as taças. Já nasci campeã de tudo, muito antes de um outro clube aí banalizar essa expressão.

E foi o amor em comum pelo futebol que me fez ser tão ligada ao meu pai na infância. Eu realmente fui a todos os campeonatos e estive presente em todas as fotos do time campeão de meu pai. Ele era um orgulho pra mim, um centroavante nato, de força física e talento. Uma pena o olheiro do Damião não tê-lo visto jogar, tenho certeza que ele sim teria ido para o Tottenham. Tudo bem, o destino tinha outros planos para ele e um deles era me ensinar além da essência do futebol, o time para qual eu torceria, os meus princípios, meus valores e, com o tempo, me tornar essa pessoa de caráter moldado ao dele. Lembro de estar com ele junto às bandeiras, com uma camisa tricolor maior que eu, para comemorar a Libertadores de 95 lá na rua, enlouquecidamente. Eu tinha apenas 4 anos. Ali, aprendi uma das maiores emoções. Eu também lembro do fatídico Gre-Nal dos 5x2 em que perdemos. Eu tinha 6. E como sempre acontecia nas derrotas, minhas lágrimas escorriam em silêncio. Ele me olhou e rindo disse: “calma, nem sempre podemos vencer, logo tem outro jogo e as coisas podem mudar”. E ali, aprendi uma das piores emoções.

Porém, com o tempo as coisas mudaram. Meu fanatismo alcançou níveis que nem ele imaginaria e o dele diminuiu. Talvez, porque sou uma sonhadora que vive no fantástico mundo do positivismo do futebol e ele, realista, obviamente não. Com o tempo nos afastamos, embora não fisicamente, já não somos mais aquela dupla implacável. Já não temos a mesma leitura do jogo, nem as mesmas opiniões táticas. Não temos mais a mesma opinião de vida, nem os mesmos objetivos. Almejamos coisas diferentes para mim, principalmente. E para piorar, eu insisto em desapontá-lo em tudo que ele espera de mim. “Não vou ser advogada pai, vou ser policial. Ou técnica do Grêmio. E se tudo der errado, vou morar na praia e viver da pesca”. Talvez por eu repetir as palavras que ele não gosta de ouvir é que hoje conversamos muito pouco. O jeito dele retranqueiro 3-5-2 de três volantes bate de frente com meu jeito 4-3-3 de ver a vida. E aos poucos, noto que pouco temos em comum a não ser o time para o qual torcemos.


E a vida nos afastou de alma embora as duas sejam tricolores. Estamos tão perto e ao mesmo tempo tão longe. A parceria do futebol se desfez. As minhas medalhas de artilheira não estão mais juntas as dele. E hoje, mesmo que eu quisesse repensar, já fiz minhas escolhas. E ele, bem... ele parece meio sem tempo para conciliar. Mas hoje escrevo-lhe estas mal traçadas linhas porque é um dia especial: é dia de Gre-Nal. Porque se há algo capaz de unir nossas energias é a vontade de vencer um Gre-Nal. E que se me falta coragem de dizer o que penso a ele, hoje a emoção será mais forte quando nos abraçarmos na hora do gol. 


Feliz dia dos pais, pai. De quem apesar dos pontos de vista diferentes, vê em ti um exemplo de vida.

Grêmio, logo existo.