terça-feira, 11 de março de 2014

RACISMO: A HIPÓCRITA ROTULAÇÃO DA TORCIDA GREMISTA

É costumeiro por parte da imprensa do sul relacionar todo acontecimento de cunho racista à torcida gremista. Tenha ele acontecido em outro clube, em outra torcida, ou em outro âmbito que não o futebol. Recentemente, o juiz Marcio Chagas foi vítima de injúria racial após apitar um jogo do Gauchão. Tal fato repugnante entristeceu a sociedade gaúcha. Qualquer cidadão que tenha formado seu caráter através de princípios e virtudes baseados na igualdade, na moralidade e até mesmo - e principalmente -  na Lei Maior, é contrário e incompatível com racismo ou qualquer diferenciação ou menosprezo de raça, sexo, etnia, opção sexual. A luta contra os preconceitos ainda não está vencida, mas certamente caminha para uma igualdade plena, mesmo que daqui há alguns anos.

Tais preconceitos são um problema sociocultural que diz respeito à população mundial. Não se atém a um povo, nem mesmo a uma região. E é por esse motivo que a conexão feita indevidamente entre casos de racismos ao Grêmio ou a sua torcida significa não apenas a desmoralização de cada torcedor como indivíduo gremista e cidadão de boa-fé, como também uma inverdade histórica.

Vejamos alguns fatos:

Em 1913/14, mesmo com toda a influência européia no sul do Brasil, da desigual Constituição de 1891 e da recente abolição da escravatura, Grêmio incluía em seu plantel o primeiro jogador negro de um grande clube de Porto Algre, o Antunes.




De 1926 a 1934, o plantel gremista já contava com Adão e Adroaldo;

1937/40 (Laxixa), década de 40 (Mário Carioca, Hélio e Prego), 1948/50 (Hermes), e depois com Tesourinha em 1952/53. Tesourinha foi “somente” o primeiro negro de destaque que vestiu a camisa do Imortal Tricolor na era profissional do clube;


 É importante enfatizar que o estatuto dizia que o quadro do clube não poderia ter negros, por cláusula gerada através de exigência feita por alemães para ceder o Estádio da Baixada.  Mas isso como mostrado, não ocorria de fato.

Entretanto, em 1909 nascia um clube não tão do povo assim. Fundados por comerciantes da classe-média, o cô-irmão permitiu o primeiro negro no seu time apenas em 1928. Se já não fosse suficiente pra desmitificar o rótulo popular, o acesso de um time criado por negros que não eram aceitos em clube nenhum para jogar a liga de futebol do Rio Grande do Sul foi negada justamente com o voto do SCI.
Os negros da época formaram então sua própria liga, nominada de "Canela Preta", para poderem jogar um esporte elitizado àquela época, mas que depois se tornaria a segunda divisão, mesmo sem permissão de ascensão para jogarem com os grandes clubes.

Portanto, relacionar casos de racismo à torcida gremista é ofender a moral do torcedor, uma vez que essa torcida é formada por indivíduos que não devem ser incluídos nas levianas generalizações. A história comprova que o Grêmio foi um clube que enalteceu grandes gremistas, sejam eles brancos ou negros, mas que também sofreu evolução com o ambiente, as leis e a sociedade. A discriminação racial é - e sempre foi - um problema social e o caso dela existir em um só clube ou torcida é um mito criado como intuito de desmoralização da maior torcida.
E como prova de um Grêmio azul, preto e branco, mostro parte do livro da história de Lupcínio Rodrigues, sócio-honorário do clube que compôs o famoso hino do GRÊMIO FOOTBALL PORTO-ALEGRENSE, onde conta porque foi que ele escolheu ser gremista:


Fontes - além de ser uma ótima e esclarecedora leitura:

FUTEBOL NO SUL: HISTÓRIA DA ORGANIZAÇÃO E RESISTÊNCIA ÉTNICA - JOSÉ LUIZ DOS ANJOS: https://drive.google.com/file/d/0BxdBHJ8VjQQFMVZkcVF1Y19Uckk/edit?usp=sharing

O FUTEBOL DA CANELA PRETA: O NEGRO E A MODERNIDADE EM PORTO ALEGRE: https://drive.google.com/file/d/0BxdBHJ8VjQQFUW1YbWJ6R3lqTUU/edit?usp=sharing




 

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